A casa vazia ao chegar tem algo peculiar. Não há vozes, não há passos apressados ou olhares ansiosos aguardando a minha chegada. Quando a porta se fecha atrás de mim, o silêncio é profundo, e eu sou, de fato, a única companhia que carrego. Não há ninguém me esperando, mas, de alguma forma, essa ausência é mais libertadora do que solitária.
A solidão tem sido mal vista, talvez porque se associe ao abandono, à falta de sentido. Mas há uma beleza sutil na liberdade que ela oferece. Não preciso atender a expectativas alheias, não preciso responder a olhares ansiosos que esperam por minha presença. Em vez disso, posso entrar e sair de casa como quiser, sem que minhas ações precisem justificar-se para mais ninguém. O controle sobre o próprio tempo é um luxo invisível, que poucos sabem apreciar.
Essa ausência de expectativas externas é uma forma pura de liberdade. Eu sou o único que define quando e onde vou estar, sem a pressão de ser esperado. A casa, quando vazia, se torna um santuário do meu ser, onde posso ser quem eu sou, sem adornos, sem precisões. E é nesse vazio que me encontro com a tranquilidade do não precisar de ninguém. Um espaço de autonomia onde não sou, nem de longe, prisioneiro das carências de outros ou das minhas.
Talvez a verdadeira beleza da liberdade esteja exatamente nesse espaço: o espaço onde eu sou o único responsável por minha chegada, onde posso me ausentar e voltar quando quiser, sem a obrigação de ser notado ou reconhecido. E, no entanto, nesse mesmo espaço de liberdade, surge uma outra verdade: de que não ser esperado também pode ser, paradoxalmente, uma forma de não ser visto. Não ser visto por aqueles que, ao nos esperar, nos tornam visíveis, importantes. Há uma solidão nas coisas não ditas, nas expectativas não geradas. Mas essa solidão é mais libertadora do que triste, mais serena do que carente. Ela me convida a seguir um caminho em que não preciso de permissão, nem de reconciliação, apenas de movimento — o movimento da minha própria jornada.
Ser livre é também entender que não há obrigações a serem cumpridas, e que não ter ninguém à espera não significa que algo esteja em falta. Pelo contrário, esse espaço aberto é o terreno onde a verdadeira autonomia pode crescer. Não há dívida emocional, nem a pressão do compromisso, mas também não há uma promessa de acolhimento. O que existe é a possibilidade de ser quem se é, sem amarras, sem necessidade de uma validação externa.
Essa liberdade tem algo de poderoso, pois permite que eu me reconecte com minha essência sem depender de ninguém para me dar um sentido. E, embora em alguns momentos o vazio dessa liberdade se faça presente, ele é apenas uma lembrança do que não preciso mais — a ansiedade por ser esperado, o desejo de ser necessário. Porque, ao fim, quem se espera verdadeiramente sou eu mesmo. E nessa espera, aprendo a ser meu próprio lar.
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