domingo, 16 de março de 2025

Despedida - Nelsinho Ferreira

Mesmo sabendo que nossos caminhos se distanciam, é impossível negar que algo de nós dois vai permanecer para sempre. Não são as palavras que importam, mas os gestos, os olhares, a cumplicidade que só quem viveu sabe compreender. E, enquanto cada um de nós segue sua jornada, um pedaço do que fomos ainda ecoa nas lembranças, como uma melodia suave e, ao mesmo tempo, pungente.

O tempo não apaga o que sentimos. A separação não apaga o que foi vivido. E, por mais que a vida siga, há algo em mim que permanece ali, nas entrelinhas de tudo o que deixamos para trás. Não é algo que se explica, nem algo que se resolve. É uma saudade que se mistura com o entendimento de que, às vezes, o maior gesto de amor é permitir que o outro siga, mesmo que a dor teimosa insista em nos prender ao que foi.

A despedida não é o fim. Ela é apenas o momento em que somos forçados a entender que a vida, por mais que nos parta ao meio, ainda tem o poder de nos transformar. E, por mais distante que estejamos, o que ficou de nós sempre será uma parte que não se dissolve. Apenas se transforma.

domingo, 9 de março de 2025

Ninguém Está Me Esperando: A Liberdade da Solitude - Nelsinho Ferreira

        A casa vazia ao chegar tem algo peculiar. Não há vozes, não há passos apressados ou olhares ansiosos aguardando a minha chegada. Quando a porta se fecha atrás de mim, o silêncio é profundo, e eu sou, de fato, a única companhia que carrego. Não há ninguém me esperando, mas, de alguma forma, essa ausência é mais libertadora do que solitária.

A solidão tem sido mal vista, talvez porque se associe ao abandono, à falta de sentido. Mas há uma beleza sutil na liberdade que ela oferece. Não preciso atender a expectativas alheias, não preciso responder a olhares ansiosos que esperam por minha presença. Em vez disso, posso entrar e sair de casa como quiser, sem que minhas ações precisem justificar-se para mais ninguém. O controle sobre o próprio tempo é um luxo invisível, que poucos sabem apreciar.

Essa ausência de expectativas externas é uma forma pura de liberdade. Eu sou o único que define quando e onde vou estar, sem a pressão de ser esperado. A casa, quando vazia, se torna um santuário do meu ser, onde posso ser quem eu sou, sem adornos, sem precisões. E é nesse vazio que me encontro com a tranquilidade do não precisar de ninguém. Um espaço de autonomia onde não sou, nem de longe, prisioneiro das carências de outros ou das minhas.

Talvez a verdadeira beleza da liberdade esteja exatamente nesse espaço: o espaço onde eu sou o único responsável por minha chegada, onde posso me ausentar e voltar quando quiser, sem a obrigação de ser notado ou reconhecido. E, no entanto, nesse mesmo espaço de liberdade, surge uma outra verdade: de que não ser esperado também pode ser, paradoxalmente, uma forma de não ser visto. Não ser visto por aqueles que, ao nos esperar, nos tornam visíveis, importantes. Há uma solidão nas coisas não ditas, nas expectativas não geradas. Mas essa solidão é mais libertadora do que triste, mais serena do que carente. Ela me convida a seguir um caminho em que não preciso de permissão, nem de reconciliação, apenas de movimento — o movimento da minha própria jornada.

Ser livre é também entender que não há obrigações a serem cumpridas, e que não ter ninguém à espera não significa que algo esteja em falta. Pelo contrário, esse espaço aberto é o terreno onde a verdadeira autonomia pode crescer. Não há dívida emocional, nem a pressão do compromisso, mas também não há uma promessa de acolhimento. O que existe é a possibilidade de ser quem se é, sem amarras, sem necessidade de uma validação externa.

Essa liberdade tem algo de poderoso, pois permite que eu me reconecte com minha essência sem depender de ninguém para me dar um sentido. E, embora em alguns momentos o vazio dessa liberdade se faça presente, ele é apenas uma lembrança do que não preciso mais — a ansiedade por ser esperado, o desejo de ser necessário. Porque, ao fim, quem se espera verdadeiramente sou eu mesmo. E nessa espera, aprendo a ser meu próprio lar.

domingo, 2 de março de 2025

Senescere- Nelsinho Ferreira

 

A velhice se revela quando começamos a valorizar o domingo de manhã mais que o sábado à noite.

sábado, 1 de março de 2025

Voz Coletiva (Movimentos Sociais) - Nelsinho Ferreira

Na rua, o grito ecoa, forte, como o vento que não se cansa,
Excluídos, marginalizados, calados, buscando ter voz,
"Somos nós!" – movimento conjunto de uma sociedade.
A marcha começa, passos firmes, pulsantes, ousados,
Homens, mulheres, crianças, olhos carregados de esperanças desfeitas.

Mas o coração, mesmo cansado, pulsa com razão,
Na luta por dignidade, por espaço, por voz.
As ruas, testemunhas de dias intermináveis,
Veem a dor, mas também o fogo que acende em cada alma.

A dor é imensa, mas a união é o seu oposto,
A força coletiva que rompe os grilhões da desigualdade.
Somos um só povo, todos sob o mesmo céu,
Buscando a luz que não se apaga, que nunca se esconde.

Direitos negados, vozes silenciadas,
Mas a revolução brota, silenciosa, de lugares e rostos inesperados.
Vem do movimento da sociedade excluída,
Que a história revela como alicerce de todas as sociedades.

Pois os que foram deixados para trás agora se levantam,
Com os pés firmes, e a certeza de que a luta nunca será em vão.
E ao final, na alvorada de um novo tempo,
Veremos que a verdadeira mudança começa onde o povo se encontra,
Na força do coletivo, na potência da união.