Há algo que dói,
mas ninguém ouve.
A tristeza caminha
entre buzinas e relógios.
Ninguém repara:
o mundo sangra nas margens,
mas as pessoas correm —
sempre atrasadas
para nada.
Crianças somem,
bombas caem,
e ainda assim há
quem reclame do café frio.
O horror virou notificação,
passa pela tela,
morre em segundos,
como tudo que já não importa.
E eu,
que ainda sinto,
me pergunto se sou o erro
ou só um tolo
que não aprendeu a esquecer.
Ninguém vai parar,
ninguém vai olhar.
Talvez a humanidade
nunca tenha existido:
foi só uma ideia
bela, frágil,
natimorta.